Aderência de argamassas
A possibilidade de moldar as argamassas para se conformar na forma de um revestimento, seja de parede, piso ou teto, faz com este material seja um dos mais versáteis da construção civil. Argamassas estão presentes nas construções humanas desde os primórdios da sociedade, mas tiveram um avanço significativo com o surgimento do cimento Portland. O uso deste material aumentou significativamente a resistência e a aderência das argamassas.
Durante muito tempo, as estruturas de construções eram formadas basicamente por elementos de alvenaria, compostos por blocos de pedra, ou tijolos assentados sobre argamassas. Os esforços predominantes neste caso são os verticais e uniformemente distribuídos. O uso de estruturas reticuladas, como as de concreto armado, introduziu novos problemas, pois os vãos permitidos passaram a ser cada vez maiores, de modo que a alvenaria, quando usada como elemento de vedação, passou a receber os deslocamentos da estrutura, as chamadas flechas. Esta movimentação natural da estrutura fez surgir uma série de problemas que se manifestam nos revestimentos de argamassa através de fissuras, trincas e desplacamentos.
Muitos dos problemas patológicos presentes em edificações no presente, se deve a falhas nos elementos de revestimento com argamassas. Tais falhas ocorrem por uma sucessão de erros, dentre os quais podemos citar, por exemplo:
a) deficiência técnica no conhecimento sobre o comportamento de argamassas por parte dos projetistas e construtores;
b) práticas errôneas na execução;
c) pouco interesse em controle tecnológico de materiais.
Um dos fatores mais importantes no desempenho de uma argamassa, seja ela de assentamento ou de revestimento, é a aderência ao substrato. Este fator é crucial para um bom desempenho de uma argamassa haja visto que muitos problemas, tais como desplacamentos, podem surgir de um comportamento abaixo dos requisitos considerados adequados.
A compreensão sobre os fatores que interferem na aderência de argamassas aos substratos vem sendo construída ao longo dos anos e pesquisas importantes sobre o tema chegaram a conlusões interessantes. Dentre estas conclusões podemos citar as seguintes:
O mecânismo de aderência é mecânico
O mecanismo de aderência entre as argamassas e o substrato é essencialmente mecânico (Carasek, 1996). Isso siginifica dizer que as forças que atuam para mater a argamassa aderida é através de uma força mecânica que a prende ao substrato. Com a penetração da água da argamassa nos poros do substrato, partículas de cimento são transportadas para dentro dos mesmos, que após a cristalização formam os elemento de fixação.
Tratamento da base com chapisco
Tratar a base com o uso, por exemplo, de chapisco, melhoram a aderência. Além de facilitar a penetração de cimento para os poros do substrato, o chapisco cria uma superfície rugosa que favorece a ancoragem da argamassa.
Traço da argamassa influência
A granulometria dos sólidos presentes na argamassa influência na aderência. Argamassas com areias mais finas, assim como a presença de cal, auxiliam a conter a perda de água para o substrato, mantendo-a mais tempo disponível para favorecer a hidratação do cimento, aumentando assim sua resistência.
A cura é necessária
A cura úmida de chapiscos melhora a resistência de aderência de revestimentos de argamassa. Isso se deve ao fato da facilitação na hidratação do cimento, permitindo que mais pontes de ancoragem sejam criadas entre a argamassa e o substrato.
Reologia da argamassa (consistência)
A reologia da argamassa interfere na resistência de aderência, pois uma argamassa que consiga espalhar-se melhor sobre a superfície, tende a preencher melhor a área de contato do substrato.
Energia de aplicação
Um fator importante é a energia de aplicação, pois quanto maior for o impacto da argamassa com a superfície do substrato, maior a área de contato completamente preenchida pela argamassa.
O ensaio padronizado para determinar a resistência de aderência de uma argamassa a um substrato é o preconizado na norma brasileira NBR 13.528 e consiste em arrancar através de um equipamento prórpio para tal, corpos de prova de um elemento revestido com argamassa.
Figura 1: Exemplo da superfície de contato enter o substrato de alvenaria cerâmica e argamassa de assentamento (baixa energia de aplicação)
Figura 2: Destaque para áreas de contato efetivo de argmassa sobre o substrato para análise no software ImageJ. Encontrou-se a área de contato efetivo em 47% da área total.
Recentemente tenho participado de estudos referente à compreensão da aderência de argamassas em substratos de alvenaria cerâmica, especialmente o comportamento ao cisalhamento na interface de contato entre os dois materiais. Esta compreensão é importante para prever o comportamento de argamassas em sistuações de sismos, carga lateral e incêndios, por exemplo.
Mais adiante tratarei sobre o estudo do comportamento mecânico desta zona de interface entre argamassa e substrato. Por hoje é só!